06 setembro 2011

ADULTERIO NO CORAÇÃO



"Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela" (Mateus 5:28). Estas são palavras radicais e mesmo cidadãos do reino têm que lutar para não resistir. Sua severa sondagem do coração causa dor quando o Filho de Deus toca nos nervos expostos de nossas moléstias morais. Jesus, tendo tratado do problema do ódio e da malícia, agora volta-se para o problema da concupiscência. Os fariseus tinham, certamente, tratado do problema do adultério, mas só superficialmente. Sua preocupação era evitar uma ofensa capital (Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22). Pode-se quase ouvir a maneira em que eles diziam: "Não cometerás adultério" (Êxodo 20:14). Jesus, em contraste, segue as pegadas do pecado do adultério até o seu covil (Mateus 15:19). Assim como ódio no coração é assassinato, assim é adultério a concupiscência desenfreada no coração.



O princípio não era obscurecer parte da aliança mosaica. O décimo mandamento dizia incisivamente: "Não cobiçarás a mulher do teu próximo" (Êxodo 20:17). Paulo, quando ainda um estranho ao evangelho, e um fariseu, tinha sido severamente penetrado por este mandamento (Romanos 7:7). Até Jó, um homem que, aparentemente, viveu antes da lei, entendeu esta verdade ética. "Fiz aliança com meus olhos" ele disse, "Como, pois, os fixaria eu numa donzela?" (Jó 31:1).



Ainda que alguma aplicação mais ampla desta passagem possa ser feita ao desejo carnal cru e sem princípios, que alguém solteiro possa abrigar por alguém semelhantemente descomprometido, o uso que Jesus faz da palavra "adultério" torna claro que sua preocupação presente é com aquele desejo ilícito que viola o próprio espírito da aliança do casamento (2 Coríntios 11:2-3). A preocupação do Senhor, em todo este trecho, é com o nosso dever de amar os outros. Nenhuma pessoa casada pode fazer justiça ao seu companheiro enquanto entregue a incontido desejo por outro. Ainda que seja um assunto da mente, ele é chamado pelo seu nome: pecado.



O Senhor não está tratando aqui da mera passagem momentânea de um desejo pela mente; se assim fosse, não haveria distinção entre tentação e pecado. (Não deveríamos ficar horrorizados pela sugestão de que a concupiscência da carne possa ter feito sua aproximação da mente de nosso Salvador, enquanto ele permaneceu sem pecado, Hebreus 4:15). As palavras "olhar para uma mulher com intenção impura" nos ajuda a entender a exata natureza da transgressão. Isto não é um pensamento fugaz, mas a concentração da mente, com o propósito de cobiçar. O texto grego descreve a pessoa que dirige seus pensamentos ou volta sua mente para uma coisa; neste caso, cobiçar uma mulher (ou um homem). Obviamente, não olhamos para tudo que vemos. O olho abrange um vasto panorama e é deixado para a mente focalizar a atenção. O pecado de Davi não estava em ver Bate-Seba despida, mas em olhar para ela, pondo em mente e, finalmente, na sua desenfreada concupiscência (2 Samuel 11:2-5). Davi queria a oportunidade para possuir Bate-Seba e a encontrou. Sua violação de Êxodo 20:17 não seria menor se essa oportunidade jamais se tivesse apresentado.



Ainda que a palavra portuguesa "concupiscência" denote acuradamente os matizes sensuais do verbo grego (epithumeo), pode-lhe faltar o pensamento concomitante de posse que é inerente a ela. O pecado sendo descrito por Jesus é o cultivo calculado do desejo de possuir alguém a quem não se tem direito. Se é para se fugir deste pecado, a própria aproximação primeira de tais pensamentos tem que ser rejeitada, antes que eles se apoderem da mente e da vontade. Na linguagem do velho provérbio: "Não se pode evitar que os pássaros voem sobre nossas cabeças, mas pode-se evitar que façam ninho em nosso cabelo." Se encontramos dificuldade em distinguir entre tentação e pecado, neste caso é muito mais sábio errar para o lado da precaução do que para o lado da imprudência.



A guerra do cidadão do reino com a concupiscência nestes tempos é destinada a ser uma luta severa e dura. Não vamos escapar facilmente do pântano da lascívia, fornicação e adultério que caiu sobre esta geração. Que nenhum discípulo tenha esta pretensão (1 Coríntios 10:12). Não há restrições sociais nas quais se possa apoiar. Nossa força e defesa tem que residir, integralmente, em nossa profunda e inabalável resolução de manter-nos puros, pelo Senhor. Na análise final, esta é onde o assunto de nossa fidelidade no reino tem sido sempre decidido. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida" (Provérbios 4:23).

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