06 julho 2011

Não erre a porta




Estava retornando de uma viagem, era de madrugada e precisei tomar um táxi. O motorista estava ouvindo uma programação de rádio de uma igreja neo-pentecostal. O meu sono já tinha ido embora, então perguntei: O senhor sempre ouve esta estação de rádio?. Ele respondeu: Ouço, somente porque gosto das músicas. Não gosto do que eles falam. Eu sou cristão, mas atualmente não tenho participado de nenhuma igreja. Ele havia deixado uma brecha para que eu introduzisse o Evangelho. Então, primeiramente perguntei-lhe o nome, e depois lancei uma pergunta fatal. Seu Joel, não gostaria de saber qual igreja freqüenta ou freqüentava, mas o senhor tem certeza que está no Reino de Deus? Houve um momento de silêncio, percebi que ele se questionava profundamente. Logo veio a resposta, porém sem muita convicção: Sim! Porém, não sou do melhores cristãos.

Eu continuei a questionar: Por quê? O que lhe garante que realmente está no Reino de Deus? Gastou mais alguns segundos, quando respondeu: Jesus conversando com um doutor da lei, disse que era preciso amar a Deus de toda a alma, coração e entendimento. Eu tenho amado. É verdade que não amo como deveria, mas tenho me esforçado. Perguntei se isso era suficiente para garantir a entrada dele no Reino de Deus, e ele disse que sim. Então lhe mostrei que ninguém entra no Reino de Deus por meio do esforço humano, mas apenas pelo novo nascimento. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se, alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. João 3.3-5. Pude compartilhar com ele sobre Efésios 2.8-9. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Nenhuma pessoa entra no Reino de Deus por causa de suas realizações, obras ou mudança de comportamento. O acesso ao Reino não se dá pelo agir do homem, mas pelo agir de Deus. Ao homem cabe apenas o exercício da fé na obra de Deus.

Hoje há muitas pessoas que estão dentro das igrejas, mas não estão dentro do Reino. Principalmente no Brasil, onde o número de evangélicos tem crescido, há muita confusão entre se tornar evangélico e tornar-se participante do Reino de Deus. A entrada pelas portas de um templo e sua filiação a um grupo religioso não garante o novo nascimento de ninguém, nem mesmo a mudança de conduta ou o maior empenho em cultivar uma vida de acordo com as Escrituras. Há somente uma porta para a salvação, e esta é Jesus. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo. João 10.9. Jesus é a porta de entrada para o Reino de Deus. Mas, afinal o que é o Reino de Deus? Segundo René Padilla, o Reino de Deus não é um lugar, mas a dimensão da ação de Deus. É o poder de Deus em ação promovendo salvação, perdão e restauração. Sob o domínio de Deus a graça manifesta-se plenamente.

O fato de Jesus afirmar ser Ele a porta, pressupõe a existência de um muro, uma barreira que nos separa de Deus. A Bíblia afirma que existem barreiras entre Deus e o homem. Em Isaías 59.2 somos informados de que o nome desta parede chama-se pecado. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça. O escritor e teólogo A. W. Tozzer diz que o homem no pecado está muito distante de Deus, porém esta distância não é geográfica, mas moral. Estar distante de Deus, denota deixar de ser semelhante a Ele. Significa se posicionar a partir de valores contrários a sua natureza de santidade e amor. Nós não temos a dimensão do que significa estar fora do Reino de Deus. Estar fora do Reino é experimentar a morte espiritual proveniente do pecado, ou seja, uma separação de Deus, de nós mesmos, dos outros, e da criação. Por outro lado, estamos sujeitos às forças do mal que controlam tanto o nosso mundo interior como o mundo exterior. Esta situação nem sempre existiu.

Houve um tempo em que o homem experimentava uma relação de harmonia com Deus e com toda a criação. No Éden, o homem tinha a imagem e semelhança de Deus, o que possibilitava a proximidade e a comunicação com Deus. Mas um ato de transgressão custou a separação de Deus. A morte picou o homem, fazendo deteriorar o relacionamento de harmonia deste com Deus. Porque o salário do pecado é a morte. Romanos 6.23. A imagem de Deus no homem ficou desfigurada e ele foi expulso do jardim. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida. Gênesis 3.24. Desde então, os homens estão à procura de um mapa que indique o caminho e uma porta de volta para Deus.

A situação do homem se assemelha muito à parábola do Filho pródigo. O filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante, vivendo dissolutamente. Lucas 15.13. A humanidade se encontra em terra longínqua, gastando as suas riquezas interiores com o que há de mais vil no mundo do pecado. Como é comum nesta terra longe de Deus, sobreveio aquele país uma grande fome. Lucas 15.14. Uma fome de Deus toma conta da humanidade. Segundo o texto, o filho pródigo buscou ajuda com um cidadão daquela terra. Lucas 15.15. O homem moderno também tem buscado encontrar soluções para suas necessidades na ciência, tecnologia, política, economia e religião. Porém, esses recursos não são suficientes para removê-lo do chiqueiro do pecado. Contudo, o grande Pai do filho pródigo espera com paciência que os descendentes de Adão cheguem a mesma experiência daquele moço, caindo em si (Lucas 15.17) e resolvam tomar o caminho de volta para casa. Cair em si, significa tomar consciência da corrupção causada pelo pecado em nossa natureza. É reconhecer que a nossa existência não está de acordo com o que ele planejou para nós.

Então qual a maior necessidade de uma pessoa longe de Deus ? É tomar conhecimento da verdade, a verdade a respeito de si mesma e a respeito de Deus. Enquanto não se conhece a verdade, vive-se na esfera da ilusão. Mesmo tendo a porta aberta diante dos olhos para ver a graça de Deus na face de Cristo, isto será em vão. Somente o Evangelho é capaz de incidir luz sobre a realidade da condição humana diante de Deus. Assim, a necessidade básica de todos os homens é que considerem a sua real situação moral, e voltem para Deus. A cruz de Cristo revela a mais dura e cruel realidade do ser humano, como também a mais doce e adorável graça de Deus. Ela nos dá sinais do que significa estar fora do Reino de Deus. O livro de Isaías descreve o sofrimento vicário de Jesus nas seguintes palavras: Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos do homens... e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 52.14 e 53.4-5. A descrição desta imagem representa o que nós causamos para Deus. Ela revela a verdade nua e crua da nossa maldade e da nossa natureza corrompida pelo pecado. Se quisermos ter uma avaliação clara a respeito do que somos - crentes ou não crentes - basta olhar para Cristo crucificado.

A silhueta de Jesus pendurado na cruz, no alto de um monte revela quem somos. É como se Jesus olhasse bem para os nossos olhos e perguntasse: Olhe para mim, avalia a tua própria condição. Jesus assumiu o lugar de representante universal da humanidade. Se por um lado a cruz mostra a natureza de santidade e justiça de Deus, também demonstra a sua natureza de amor e misericórdia. No corpo ensangüentado de Jesus pendurado na cruz, vemos que Deus não é contra o pecador: nela Ele foi pregado para nos resgatar de nossa condição de orgulho e desobediência.

A cruz nos surpreende. Ela nos deixa à vontade diante de Deus ao revelar a sua face de amor e acolhimento, constrangendo-nos a assumir uma postura de sinceridade e arrependimento. Ela emite sinais de que podemos confiar em Sua graça e em Sua misericórdia. Pois, o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 2 Coríntios 5.14.
Quando não podíamos superar as barreiras de separação impostas pelo pecado, Deus veio até nós na face de Cristo para nos reconciliar com Ele. Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados. 2 Coríntios 5.19. Isso chama-se graça. Assim, Jesus crucificado tornou-se uma porta escancarada para experimentarmos a salvação em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Isto serve para os pecadores perdidos como também para as novas criaturas. Jesus se deleita em nos dizer: Eu sou a porta. Se alguém (você) entrar por mim, será salvo; entrará, sairá, e achará pastagem. João 10.9. Jesus é a porta de acesso ao Reino da graça de Deus. Contudo, Jesus mesmo foi quem disse: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procuração entrar e não poderão. Lucas 13.24. Em seu livro Queremos ver a Jesus, Roy Hession aponta para quatro fatores pelos quais podemos ver a Jesus como a porta de entrada para a dimensão da graça.

Primeiro, devemos vê-lo como porta aberta, amplamente aberta. Jesus é a expressão da bondade de Deus, ou seja, de sua graça. A hora em que ela se abriu, foi a hora em que, pendurado na cruz, ele exclamou em triunfo: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. João 19.30. O véu do Templo foi rasgado de cima para baixo. A barreira de separação entre Deus e o homem deixou de existir, e foi aberta a porta para o pecador.

Segundo, precisamos ver esta porta aberta ao pé do chão. Isto é, aberta ao fracassado. Não meramente uma porta aberta para nós quando nos tornamos bem sucedidos. A gloriosa verdade é que Cristo está a nossa disposição, como somos e onde estamos. Deus o fez acessível a nós pecadores. Em Romanos 11.6 lemos: mas se é por graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. A essência da graça é ser imerecida. Terceiro, é uma porta aberta junto à cruz. É preciso passar pela cruz, ou seja, ter uma atitude de arrependimento e morte para o pecado e para si mesmo. A nossa obstinação e inflexibilidade são abandonadas. A nossa dura cerviz é tratada. Jesus curvou a cabeça na cruz por nós. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. João 19.30. Nós também temos de curvar a nossa cabeça até em baixo, reconhecendo os nosso pecados e nossa condição de pecadores.

Quarto, é uma porta estreita. Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida. Mateus 7.14. À primeira vista, a estrada para a cruz parece larga, e podemos ir a ela todos juntos, mas à medida que nos aproximamos do lugar de arrependimento, a vereda se torna mais estreita. Não há espaço para irmos todos juntos. Se vamos entrar, temos de estar inteiramente sós. A experiência do apostolo Paulo era: Estou crucificado com Cristo e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2.20. Esta é uma experiência pessoal.

Há muitas pessoas que querem entrar nesta nova vida tentando escalar os muros ou pular as cercas com a ajuda da escada da religião. Esperam conquistar o reino pelo esforço próprio. Acreditam que dá para invadir os céus como se faz com o quintal do vizinho para roubar poncã. O que não entra pela porta... mas sobe por outra parte esse é ladrão e salteador. João 10.1. Porém, para estes e para todos os pecadores, há uma porta aberta. Basta olhar para Jesus e se ver identificado com Ele em sua morte. No momento de sua crucificação fomos colocados em Cristo, para permanecer Nele e Ele em nós. "O homem, não podia chegar à santa presença de Deus;Porque seus pecados do qual grande montão, vendavam-lhe a entrada nos céus.

Mas pelo seu sangue, Jesus expiou a culpa dos crentes na cruz;

Tirando o pecado, caminho mostrou, o qual para o céu nos conduz. E tu, pecador, não desejas então o amor do teu Deus conhecer?

Por fé no Senhor, como teu Salvador, irás alcançar tal prazer.

A graça de Deus te chama dos céus; Oh! Crê nesse amor sem igual."
( Hino 18 do Cantor Cristão.Stuart Edmund Mc. Nair, 1867-1959)
Pastor Julio Cesar Lucarevski

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