17 julho 2011

"EU QUERO PECAR"


“Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para vergonha nossa” (1 Coríntios 15:34).
        A Hamartiologia é a doutrina que explica o pecado. A palavra pecado é aplicada ao conjunto de obras, pensamentos, que desagrada a DEUS, aquilo que transgride a Sua Santa Palavra. Crendo dessa maneira, chegaremos à conclusão de que todos que vêm a esse mundo são transgressores, inimigos de DEUS por natureza. O apóstolo Paulo bem confirmou essa tese: “Porque todos pecaram e destituídos estão da Glória de Deus” (Romanos 3:23). O ser humano possui uma natureza deliberadamente pecaminosa. E há três elementos que contribuem para que ele permaneça nesse estado decaído: a carne, o mundo e os demônios. A carne deseja, o mundo convida e os demônios oprimem a pessoa a executar. Por isso, em toda a Bíblia, os filhos de DEUS são exortados a permanecerem afastados dessas três fontes de perigo e perdição.
        Por sermos destituídos de DEUS, JESUS ensina que devemos experimentar um novo nascimento. Essa nova lavagem espiritual nos faria santos, separados, filhos tementes, aptos a caminhar em busca da santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14). Ora, o novo nascimento nos foi dado pela fé e pela confissão de que JESUS é o Único SENHOR, que morreu e ao terceiro dia ressuscitou. Mas essa nova experiência não nos tornará anjos, seres sem pecado, perfeitos em nossa caminhada cristã, imunes à queda. Ao contrário, um pecador remido, lavado pelo Sangue de JESUS, regenerado, continua sua natureza frágil, imperfeita, porém, agora, com uma grande diferença: temente ao Evangelho da salvação. “Porque sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os ímpios ficarão prostrados na calamidade” (Provérbios 24:16) (grifo meu).
        A diferença entre um pecador opresso e um pecador remido está exatamente na reação que cada qual tem da prática pecaminosa. Enquanto o opresso age sem temor e repetidas vezes, ainda que saiba que a atitude dele está ferindo a outra pessoa e o levando à perdição, o remido quando mente, adultera, enfim, faz qualquer coisa que desagrada a DEUS, logo vem o arrependimento, as lágrimas, o abandono. Não tratemos isso de forma mecanizada, como se todos os remidos tivessem o mesmo nível espiritual ou como se todos fossem seres robotizados. Há pessoas que já experimentaram o novo nascimento, mas que ainda não desenvolveram uma maturidade espiritual suficiente para abandonar de vez o pecado que o persegue. Elas vão caindo e se levantando, caindo e se levantando, até alcançarem a plenitude da Graça de DEUS em suas vidas.
        Quero, pois, direcionar este estudo à realidade espiritual do cônjuge opresso. Embora não seja comum ouvirmos de alguém que está em opressão espiritual (considere essa expressão no sentido de tormento espiritual causado pelos demônios), da própria boca (“eu quero pecar!”), o seu coração já fez tal afirmação. Um marido que luta bastante pela restauração do seu casamento, abandonado pela esposa, ouviu dela a seguinte expressão: “eu sei que estou errada, mas eu quero pecar, viver no pecado, ao invés de voltar para você”. Essa já é uma revelação, uma manifestação clara, um indício explícito de uma mente dominada pelo diabo, um recado latente de quem, verdadeiramente, está reinando naquela vida. É o extremo da opressão e da dominação.
        A coleção de várias frustrações adquiridas no casamento e guardada no coração pode fazer uma pessoa passar do estágio de vítima ao estágio de opressa, perturbada, longe de DEUS. Todos os erros, por mais graves que pareçam, cometidos por um cônjuge, criam sentimentos de decepção, de mágoa, de revolta. Esses erros cometidos pelo outro não podem nos afastar da direção de DEUS. Não é porque alguém me decepcionou que eu tenha que pagar na mesma moeda, nem, muito menos, querer mais saber dessa pessoa, como se ela não tivesse conserto algum da parte de DEUS. Quando sofremos pelas atitudes erradas do nosso cônjuge, o que sobe à mente de imediato é que estamos sendo injustiçados, pois julgamos as nossas atitudes perfeitas. É como se o outro fosse sempre retribuir, no mesmo grau de justiça e de amor, aquilo que fazemos por ele. Além de o casamento não ser definido e determinado somente por ações de reciprocidade, sabemos que a realidade não é bem essa. Muitas vezes plantamos amor e recebemos espinhos como recompensa. Às vezes nos dedicamos tanto a um sonho que nutrimos durante anos e nos frustramos amargamente. A amargura e a injustiça também fazem parte do casamento. Mas o que desejo chamar atenção é que o erro de um não pode disseminar nem justificar erros, pecados futuros em quem um dia foi vítima de tudo isso. Uma pessoa que tem a vida escondida em CRISTO aplica o principal elemento à vida dela: o perdão, extensão das misericórdias do SENHOR. E o segundo elemento também: não desistir jamais do casamento. Porque temos que associar sempre o casamento à relação de CRISTO com a igreja, como bem escreveu Paulo na Carta aos Efésios, quando dos deveres de maridos e esposas cristãos: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim, como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido. Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5:22-27). Se CRISTO não desiste de nós quando erramos, quando O desagradamos, então, assim também, não devemos desistir do cônjuge. O mesmo olhar que JESUS tem por nós quando O desagradamos (“você tem jeito, sim”), é o mesmo olhar com que devemos olhar para um cônjuge opresso.
        Observe o seguinte: o nível de opressão de um tem que levar a um nível de santidade bem maior no outro. Os dois não podem viver na mesma opressão, senão o casamento perdeu a completa importância e o fôlego de existência. Serão dois mortos espirituais, caminhando com uma cobertura de vivos. Se os dois não querem, DEUS também não vai se envolver nesse negócio. Porém, cada qual vai ser julgado pela decisão que tomar. Quando ambos desistem do casamento é um sinal claro da ação demoníaca, da aceitabilidade do erro. Quem, afinal, passaria o resto da vida sem adulterar, estando longe do marido e da esposa? E, mesmo que conseguisse, estaria correto aos olhos de DEUS viver separado da pessoa que DEUS uniu e abençoou? Querer estar separado (a), distante fisicamente falando, é estado de opressão, de falta de perdão, de impiedade, de coração duro. E, por acaso, um filho de DEUS tem alguma dessas características citadas? Um filho é conduzido segundo a vontade do PAI. Essa é a doutrina básica, inicial, que todo cristão aprende no coração, quando recebe o poder de ser chamado “filho de DEUS”. O primeiro recado que recebi de JESUS no meu novo nascimento foi: “abra mão das suas vaidades, do seu querer, mortifique o seu EU, o seu orgulho; e me siga”. Esse é o “bê-á-bá” da cartilha de DEUS para as nossas vidas.
        Mas se o seu marido ou a sua esposa está opressa, se ele ou ela quer pecar, viver separado (a) da família, como, então, agir, sem sair da presença de DEUS? DEUS dá uma ordem, através do apóstolo Paulo, as pessoas casadas que passam pela separação: “fiquem sem se casar com mais ninguém (...)” (1 Coríntios 7:11), ou seja, “não busquem envolver-se com pessoa alguma, pois você, para mim, permanece casada (o)”. DEUS sabe que o primeiro desejo de uma vida que é repudiada pelo companheiro (a) é a de achar que aquele casamento se desfez, que não há mais solução, e, assim, desejar um novo relacionamento. Essa é a primeira seta que satanás lança nos corações: a de desistir daquela história. Se a pessoa ouve e guarda esse conselho maligno no coração, estará se afastando de DEUS, perdendo a salvação da alma, tornando-se adúltera aos olhos do SENHOR (Romanos 7:2-3; 1 Coríntios 7:39). Alguém que estiver passando pelo vale da separação poderia perguntar a DEUS: “sim, e vou viver sozinha (o) por todo o tempo que me restar?” Então DEUS a (o) responde: “(...) reconcilie-se com o seu cônjuge” (1 Coríntios 7:11). “Mas, como se reconciliar com uma pessoa que afirma categoricamente que não me quer mais?” Aí entra a ação do Espírito Santo. Quando DEUS diz “reconcilie-se com ele (ou ela)”, ELE está, na verdade, mandando guardar essa fé e esse desejo no coração. DEUS também sabe que a pessoa repudiada não tem poderes de convencer o cônjuge opresso em palavras ou em ações, de fazê-lo voltar para o lar. Lidar com a realidade espiritual do outro é respeitar a vontade dele de querer estar no pecado. Respeitar não significa aceitar. Eu posso respeitar a prática pecaminosa de um grande amigo, mas não devo concordar com ela. São atitudes bem distintas. Por exemplo: uma pessoa deve respeitar o direito do outro de querer se divorciar dela, mas jamais aceitar em seu coração o estado de divorciada nem compactuar com o divórcio. Uma pessoa civilmente divorciada permanece casada para DEUS, enquanto o cônjuge viver. Sendo casada para DEUS não pode guardar no coração essa realidade que o diabo construiu na mente e no coração do outro. E como buscar a restauração do casamento sem guardar no coração uma realidade criada por satanás? Seguem algumas instruções básicas: não tirar a aliança do dedo; respeitar a liberdade do outro em se manter afastado; passar a viver de boca fechada, mantendo-se firme na fé; buscar a santificação.
        Uma maneira de respeitar a liberdade de agir da outra pessoa é ignorá-la, desfazendo todo e qualquer vínculo emocional com ela. Afinal, respeitar o que o outro faz não resulta necessariamente em caminhar ou me ligar a essa pessoa. Quem é luz do SENHOR, anda com o Espírito de DEUS, e não deve se envolver com opressão maligna da vida de ninguém, nem mesmo do cônjuge. Ele (ou ela) quer pecar? Respeite-o (a)! E para não sofrer, desvincule-se, passando apenas a orar e a jejuar por essa pessoa. Essa é a maior prova de que somos convertidos, de que praticamos o Amor de DEUS em nós: amar o outro quando ele não merece; não desistir quando vemos nada acontecer. Quando alguém chega para mim e me diz que quer seguir por determinado caminho de pecado, a única coisa que faço é mostrar-lhe que o tal caminho vai lhe trazer destruição. Se a pessoa insistir, não farei mais qualquer objeção para impedir. É caindo, sofrendo, que ela vai ver o tamanho da ferida que causou em si mesma. Há pessoas que têm por maior conselheiro a própria dor.
        Sabendo que todo caminho do pecado é enganoso, aparentemente bom e agradável para quem está nele: “HÁ CAMINHO QUE AO HOMEM PARECE DIREITO; MAS O FIM DELE SÃO CAMINHOS DE MORTE” (Provérbios 14:12). Há práticas que parecem maravilhosas e perfeitas, assim como há pessoas na igreja que parecem salvas e tementes ao Evangelho. Apenas parecem. No interior, são lobos devoradores, cujo final é a perdição, a condenação. Acaso você já leu o que está escrito em Mateus 7, versículo 15 e depois os versículos 21-23? Quem busca o pecado, uma vida dissoluta, embora, no futuro, chegue a se arrepender e a voltar para casa, vai colher as marcas do tempo em que transgrediu. É como uma pessoa que abandonou o cônjuge, não liberou perdão verdadeiro, e ainda por cima tornou-se adúltera no mundo. Nesse tempo se envolveu com outra pessoa (achando que esse caminho era bom) e engravidou (se for mulher) ou engravidou uma terceira (se for homem). A presença daquele filho, fruto da maldição do adultério, as responsabilidades com ele, tudo o que estiver ligado a esse pecado deixará marcas. DEUS perdoa pecado, quando confessado verdadeiramente e abandonado; mas as consequências permanecem. E há consequências que são irreversíveis. Lembro-me de um cidadão que se afastou da esposa, da família, e foi viver com uma mulher adúltera, com quem chegou a ter dois filhos. Adiante, desentenderam-se e se separaram. Ele, desesperado, em total opressão, desferiu tiros contra ela (pois a mesma o ameaçava na Justiça), chegando a matá-la. Em seguida, já preso, arrependeu-se de ter abandonado a esposa e a família, chorando amargamente. Creio que DEUS o perdoou, mas a vida daquela adúltera aquele homem não poderá trazer de volta. Ele só está esperando cumprir a pena, atrás das grades, para procurar novamente a esposa, pedir perdão a ela e voltar de onde jamais deveria ter saído. Filhos, despesas, assassinato e tantas coisas mais, a desobediência a DEUS causou na vida daquele homem. Tantos dissabores, ele poderia ter evitado. Mas, pela dureza do coração, preferiu seguir por caminhos que considerava direitos. Ele preferiu fechar os olhos para a advertência bíblica: “o que adultera com uma mulher é falto de entendimento; destrói a sua alma o que tal faz” (Provérbios 6:32). A esposa não poderia evitar, com a própria força, nada do que aconteceu na vida dele. O que restou a ela, sabiamente, foi orar, esperar, desvincular-se para não sofrer mais do que deveria. O momento fatídico da vida do marido foi quando ele disse ao próprio coração: “eu quero pecar!”. DEUS ouviu e se entristeceu. Satanás sorriu e tratou logo de encarcerá-lo espiritualmente. É certo que a vida pecaminosa chegou ao limite de DEUS, mas o preço pago foi altíssimo.
        A verdade é que DEUS, através do Seu Único Filho, não deseja a morte nem a destruição de ninguém, nem de família alguma. A prova é que ELE aconselha a reconciliação, o perdão, a restauração familiar. DEUS insiste para não desistirmos do milagre que ELE pode e vai fazer em nós, em nosso cônjuge e em nossa família, para que tenhamos um testemunho forte e o Nome DELE seja glorificado através de nossas vidas. Que DEUS nos abençoe! 
Fernando César

Nenhum comentário:

Voltar