Textos: Sl. 68.6 – II Tm. 4.9-18
INTRODUÇÃO: As pessoas estão cada vez mais
centradas em si mesmas, ninguém tem mais tempo para o outro. Por esse motivo,
não são poucas as pessoas que estão sendo abandonadas, inclusive dentro da
igreja. Trataremos a respeito desse problema, mostraremos, a princípio, que
essa é realidade constatada na Bíblia. Em seguida, que o abandono pode resultar
em solidão. Ao final, apresentaremos encaminhamentos bíblicos para enfrentar a
solidão e o abandono.
1. ABANDONO, UMA REALIDADE
BÍBLICA: Em II
Tm. 4.9-18, Paulo, o Apóstolo dos Gentios, relata sua situação de abandono, ou
conforme uma tradução bíblica, de desamparo. O verbo em grego é egkataleipo que
significa “ser deixado para trás” ou “ser desertado”. O Apóstolo estava preso,
provavelmente em sua última prisão em Roma, por volta do ano 60 d. C. Essas
eram suas palavras finais antes de ser executado por Nero, o sanguinário
imperador que mandou incendiar a cidade de Roma. A expressão “ninguém me
assistiu”, no versículo 16, é um destaque da condição na qual Paulo se
encontrava. Mesmo assim, ele não se desesperou, pois entrou um “mas” na
história. Ele diz, no versículo 17: “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me,
para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem e
fiquei livre da boca do leão”. Uma tradução literal diria “o Senhor ficou do
meu lado”. Mas o caso de Paulo não é único de abandono na Bíblia, desde o
Antigo Testamento, o povo de Israel passou por essa realidade. O Senhor sempre
prometeu permanecer do lado do Seu povo, mesmo quando este fosse desamparado,
azab em hebraico (Gn. 28.15; Dt. 31.6,8). O próprio Jesus passou pala situação
de abandono, alguns dos seus ouvintes acharam suas palavras demasiadamente
duras (Jo. 6.60). Os discípulos, nos momentos angustiantes que antecederam Sua
prisão, O deixaram sozinho (Mt. 26.46,47). Posteriormente, depois da Sua
prisão, seus discípulos se distanciaram dEle, Pedro negou que O conhecia (Mt
26.31, 70-72). Na cruz Jesus se sentiu abandonado pelo Pai, citando o Sl. 22.1,
Ele clamou em oração: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mt. 27.46).
2. O ABANDONO PODE RESULTAR EM
SOLIDÃO: Desde o
princípio, Deus criou o homem para ter companhia, Ele mesmo atestou que não era
bom viver só (Gn. 2.18). Adão estava com Deus, mas precisava de outro ser
humano para conviver. Diante dessa necessidade, Deus criou Eva e ordenou que se
multiplicassem. Depois da Queda Adão e Eva deixaram de desfrutar da comunhão
com o Criador, e entre eles mesmos. O abandono e a solidão têm causas diversas,
dentre elas destacamos:
1) Sociais – a tecnologia está fazendo com
que as pessoas fiquem cada vez mais solitárias e abandonem umas as outras. No
trabalho cada um fica no seu espaço reservado, os membros das famílias não têm
mais tempo para ficarem juntos;
2) Urbanização – na medida em que as pessoas se
transferiram para as cidades, foram fechando-se dentro de suas casas, mais
recentemente nos apartamentos, vizinhos que mal se conhecem;
3) Televisão e internet – está tomando o tempo das
pessoas ficarem juntas para conversarem, elas ficam horas à fio diante da
tela;
4) Baixa autoestima – as pessoas que têm um
pensamento negativo a respeito delas mesmas tendem ao isolamento, elas se
abandonam antes de serem abandonadas;
5) Medo – por causa das muros, ao invés de
pontes, construídas pela sociedade moderna, cultivamos a cultura do medo de nos
aproximar do outro.
O abandono, juntamente com a solidão,
pode causar males às vidas das pessoas. Algumas delas podem desenvolver
depressão por causa do isolamento a que são submetidas. O exibicionismo
exagerado nas redes sociais – facebook e twitter, por exemplo – pode ser um
sinal de solidão. Mas é preciso ter cuidado para não se expor demasiadamente,
pois as consequências podem ser desastrosas. Isso porque nem todas as pessoas
que estão na rede são compreensivas com aqueles que passam por situações de
abandono.
3. COMO ENFRENTAR O ABANDONO: Nem sempre o abandono é uma realidade,
na verdade, conforme já destacamos anteriormente, pode ser uma consequência do
autoisolamento. Por isso, é recomendável que a pessoa que se sente abandonada,
antes de qualquer coisa, não se abandone. O primeiro passo é reconhecer que
Deus é Aquele que está sempre pronto a estar ao nosso lado (Is. 42.16). Há
casos em que o abandono aconteceu em algum momento da infância e acompanha a
pessoa durante a idade adulta. Em tais situações, a saída é orar pedindo a Deus
que traga à memória tais aflições (Lm. 3.19), em seguida, entrega-las a Deus em
oração. O Salmo 139.1-18 é um modelo de oração que expressa a presença de Deus,
mesmo nas situações adversas, quando o sentimento de abandono assola o cristão.
Ao invés de se queixar, aprendamos com Paulo a entregar aqueles que nos
abandonam a Deus (II Tm. 4.14), e o principal, escolher perdoá-los (Cl. 3.13).
A igreja deve ser um ambiente propício à cura do abandono e da solidão, mas
infelizmente, como esta também foi contaminada pelo isolacionismo moderno, seus
membros não encontram tempo para encorajar uns aos outros (Hb. 3.13). A igreja
precisa estar atenta às pessoas doentes, viciadas, solteiras, idosas e
desempregadas. Em uma sociedade utilitária, que se preocupa com as pessoas
apenas pelo que elas podem fazer, a igreja é tentada a esquecer dessas pessoas.
É preciso criar espaços de integração na igreja local, evitar a criação das
“panelinhas”. A liderança deve investir em momentos de comunhão, não apenas
para o culto, mas para estarem juntas.
CONCLUSÃO: O Deus da Bíblia é de comunhão, por sua própria natureza, é trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo. Ele tem interesse que as pessoas vivam umas com as outras, por isso criou a família. A igreja é uma extensão dessa realidade, não por acaso os que se congregam são chamados de irmãos e irmãs. Mas é preciso cultivar relacionamentos na igreja, caso contrário ela perde a razão de ser. Portanto, como diz o autor da Epístola aos Hebreus, no sentido relacional, que deve ser peculiar da ekklesia: “não deixando de congregar como é costume de alguns” (Hb. 10.25). PENSE NISSO!
Deus é Fiel e Justo!
Teinho Silva
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